Uma Perspectiva Geral Sobre as Armas da Era Viking
Uma vez que o uso de armas foi fundamental para a cultura da Era Viking, nós as estudamos para aprender mais sobre as pessoas daquele período, sobre sua cultura e sociedade, sobre a poesia e literatura daqueles povos, que é um dos seus grandes e duradouras legados. Neste artigo, discutimos não somente as armas e seu uso mas também seu lugar na sociedade da Era Viking.
Sabemos que a grande maioria das pessoas na Era Viking eram agricultores e comerciantes, mas também era uma sociedade em que as armas desempenhavam um papel central na qual o uso das mesmas era uma ocorrência comum. Armas estavam em grande parte da vida cotidiana na Era Viking, praticamente todo homem livre detinha e carregava uma arma e estava familiarizado com seu uso. O direito de carregar e utilizar armas foi um dos direitos fundamentais de homens livres na sociedade viking, no entanto, de modo algum a sociedade viking foi uma sociedade militar, pelo contrário, era uma sociedade agrícola em que praticamente todos tinham de cultivar seu próprio alimento.
Cumprimento da lei e respeito à honra
Há muitas razões pelas quais armas e combates eram parte central da sociedade da Era Viking, mas não foi devido ao povos vikings serem bárbaros sem lei, como é frequentemente retratado na mídia popular. Na verdade era justamente o oposto: a lei e a adesão a lei era uma parte central da cultura viking, conforme descrito em registros de assembleias (þing) como a Lögberg, em coleções legislativas como o Grágás, entre tantas outras evidências históricas. Em parte, as armas foram importantes porque a sociedade viking era uma sociedade baseada em honra. Honra era mais importante do que qualquer mera posse física e o termo atual "honra" (do inglês honor) mal começa a descrever o valor e a importância que as pessoas da Era Viking tinham para o que, para eles, significava honra.
Os homens dormiam com suas armas penduradas ao lado da cama, prontas para uso imediato caso um ataque acontecesse durante a noite. As sagas nos dizem que os agricultores levavam suas armas com eles enquanto trabalhavam seus campos. A Saga de Njáll, por exemplo, diz que, certa manhã, Höskuldur saiu para trabalhar seu campo em sua fazenda na Ossabær. Ele pegou o saco de semente em uma mão e sua espada na outra e saiu a semear as sementes, porém, sua espada não foi proteção suficiente contra os cinco homens que esperavam para emboscá-lo.
Equipamentos
Embora seja provável que todo homem livre tivesse pelo menos uma arma, é também provável que alguns homens tivessem mais de uma. Na Era Viking, era difícil conseguir ferro e criar algo com ele consumia muito tempo, por consequência, o tornando caro. Tudo que exigia uma grande quantidade de ferro em sua construção, tal como uma arma, era um artigo caro. Além disso, algumas armas como espadas eram tão difíceis de fabricar que apenas ferreiros altamente especializados poderiam fazê-las com qualidade, aumentando ainda mais o seu valor e prestígio.
Como resultado, um típico homem estava armado com nada mais do que um escudo e um machado ou um escudo e uma lança. Um homem pobre poderia simplesmente usar o machado de cortar madeira da fazenda caso não tivesse mais nada disponível.
Um homem mais rico poderia possuir uma espada, que na Era Viking valia uma dúzia ou mais de vacas de leite. Uma vez que possuir uma ou duas vacas de leite poderia significar a diferença entre morrer de fome e sobreviver durante o inverno na Era Viking, dá pra imaginar o quão valiosa era uma espada.
Um homem com mais riqueza, talvez alguém que retornou de ataques vikings bem sucedidos, poderia substituir sua espada e escudo ordinários por armas de prestígio, mais bem ornamentadas. Poderia acrescentar uma segunda arma, como uma seax (espada curta) ao seu conjunto de armas.
Somente os muito ricos, que estavam no topo da hierarquia social, tinham o luxo de possuir toda a panóplia de armas e defesas mostrados aqui: machado, lança, cota de malha, elmo, juntamente com espada e escudo. Tais exibições de riqueza devem ter sido raras na Era Viking.
Um estudo de sepulturas da Era Viking no oeste da Noruega revelou que, das sepulturas em que foram encontradas armas, 61% delas continha uma única arma, enquanto apenas 15% continha três ou mais. O direito de portar armas era limitado a homens livres, tanto as mulheres quanto os homens não-livres (como os escravos) eram proibidos de portar armas.
Uso de armas por mulheres e escravos
Há exemplos históricos de mulheres e escravos que possuíam armas, mas as histórias e os registros de leis deixam claro que a utilização dessas armas por eles não era permitida. Com poucas exceções, as sepulturas das mulheres não contêm armas, no entanto as sepulturas dos homens geralmente contêm. Armas não faziam significante parte na vida das mulheres da Era Viking.
A proibição às mulheres de carregarem armas trazia consigo algum nível de proteção contra a violência. Em uma luta, ferir ou prejudicar uma mulher era considerado algo vergonhoso ao extremo, mesmo que acidentalmente. Isso não quer dizer que esse tipo de ataque nunca ocorria, mas quando ocorriam, homens honrados os condenavam, se reunindo imediatamente para caçar e matar o culpado por seu ato vergonhoso. Até mesmo a violência lúdica era censurável, em Droplaugarsona Saga, por exemplo, Helgi repreendeu seus homens por brincarem arremessando uma bola de neve em uma mulher, alegando que somente alguém muito estúpido e ruim ataca uma mulher. Mas isso não significa que as mulheres nunca tenham usado armas, as pessoas faziam o que fosse necessário para sobreviver e isso incluía pegar uma arma e usá-la. Homens, mulheres e crianças usavam armas com intenção letal na Era Viking. Honra, coragem, independência e uma forte vontade eram admirados em homens e mulheres. Embora, geralmente, o uso de armas fosse deixado para os homens, as mulheres usaram armas quando houve necessidade, muitas vezes quando elas sentiram que os homens não estavam se comportando honradamente.
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Thordis e Börkur no acontecimento da Gisla Saga. |
Em alguns casos as mulheres lutaram sem armas, como, por exemplo, nos conta a Harðar Saga, onde um assassino foi enviado para matar um homem chamado Refur. Enquanto o tal assassino estava subindo sobre a cama de Refur para pegá-lo desprevenido durante a noite, acabou sendo visto pela mãe do mesmo. Ela gritou um aviso mas o assassino desferiu um primeiro golpe, causando uma ferida dolorosa em Refur. Antes que o assassino pudesse atacar novamente, a mãe de Refur o agarrou, o trouxe ao chão e em seguida o mordeu na garganta para matá-lo.
Reproduções modernas


Nos links abaixo é possível conferir algumas demonstrações de equipamentos de combate de um guerreiro viking:
Observação: algumas informações deste artigo como citações das Sagas e ilustrações de armas foram extraídas e adaptadas do site do Hurstwic, sendo as mesmas de direito do autor. Para maiores detalhes, entre em contato com o autor original, que pode ser encontrado nas referências deste artigo.
Referências bibliográficas
James Graham-Campbell. Os Vikings, Grandes civilizações do passado. Editora Folio, 2006.
Artigo sobre armas na sociedade viking do Hurstwic.
http://www.hurstwic.org/history/articles/manufacturing/text/weapons_then_and_now.htm
Swords
Terms, artigo do site Albion Sword.
Norwegian
Viking Age Swords - Typology.
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