Quem Foram Os Vikings?


     Antes de tudo, temos de compreender que "viking" é um termo utilizado para associar os povos da Escandinávia entre os séculos VIII e XI d.C. Também conhecidos como "nórdicos" (norsemen em inglês) pelos povos que lhes eram contemporâneos, os vikings constituíam uma rica cultura marcada pela atividade agrícola, pelo artesanato, pelo amplo comércio, pela religião e pelas notáveis habilidades marítimas.

     Nas incursões feitas neste período, estes povos foram responsáveis por ataques a várias regiões de diferentes populações como, por exemplo, o ataque ao mosteiro de Lindisfarne em 793 d.C.. Este mesmo ataque marca o que, para os historiadores, é considerado o início da Era Viking (que termina no século XI, mais especificamente em 1066, após a Batalha de Hastings e consequentemente a conversão de todos os reinos escandinavos ao cristianismo).

Vila reconstruída no Fotevikens Museum.
     
     Durante os cinquenta anos posteriores ao ataque inicial a Lindisfarne os vikings saquearam, com frequência cada vez maior, as costas das ilhas britânicas e a margem oeste do continente europeu, invadindo os mosteiros indefesos onde haviam ricas coleções cerimoniais de ouro e outros objetos muito valiosos. Podemos fazer uma ideia daquilo que os vikings levaram pelas peças de metal muito adornadas que foram encontradas em alguns túmulos da Escandinávia. Esta fase inicial parece ter sido de pura pirataria: estes invasores, que vinham principalmente da Noruega e da Dinamarca, tinham descoberto como era fácil roubar os lugares ricos da Europa Ocidental. Os seus ataques-relâmpago eram favorecidos pelos seus velozes barcos de grande manobrabilidade.

Recriacionistas em evento no Fotevikens Museum.
     
    Na segunda metade do século IX surgiu uma nova fase, pois os vikings deixaram a pirataria e começaram a colonizar. O maior exemplo de colonização que temos dessa fase é o Danelaw, nome dado historicamente à parte da Bretanha na qual as leis dos daneses eram hegemônicas e sobrepujavam as leis dos anglo-saxões. Nesta fase de colonização, os seus barcos transportavam grupos de colonizadores com seus equipamentos domésticos e outros fornecimentos para os novos lares.
     
     Foi graças aos drakkars e aos knorrs que os vikings conseguiram colonizar grande parte das ilhas Britânicas, assaltar a Europa e descobrir a Islândia, a Groenlândia e até mesmo a América aproximadamente 500 anos antes de Colombo. Foram, sobretudo, os noruegueses que viajaram nesta direção. Os dinamarqueses fixaram a sua atenção nos países mais povoados como a Inglaterra e a França, primeiro enviando expedições combatentes e depois se instalando.

Membros do grupo tcheco Marobud no evento Utgard 2016.

    Os suecos dirigiram-se principalmente para o leste; as suas viagens os levaram ao sudoeste da Finlândia, para o sul e o leste báltico, depois através da Rússia, Ucrânia, Constantinopla, ao mar Cáspio e Jerusalém e até mesmo a Bagdá. Vieram a ser conhecidos como “varegues” (em nórdico antigo væringjar; em grego barangos) estes nórdicos que se deslocaram durante os séculos IX a XI para o leste e sul da sua terra de origem, a Escandinávia. Desde, pelo menos, o século X em diante, diversos varegues serviram como mercenários no exército bizantino, formando a chamada Guarda Varegue. Parte destes migrantes varegues, que viriam a ser conhecidos como Rus, desceu pelo Rio Volga se estabelecendo no que hoje é a atual Kiev (capital da Ucrânia), fundando o reino de Kievan Rus.

     As razões que levaram tantos a tomar a decisão de deixar a Escandinávia naquela época, para participar das expedições invasoras ou estabelecer-se para além dos mares, continuam um mistério, mas a superpopulação nas terras nativas, a falta de terreno cultivável e os conflitos entre diferentes facções são algumas das razões que se propuseram. Provavelmente, todos estes fatores desempenharam papel decisivo nas migrações vikings nos séculos IX e X. Atualmente, todos esses povos recebem o termo genérico vikings, o qual discutiremos a seguir.

Representação de guardas varegues pelo grupo New Varangian Guard - Rusland.


Origem do termo viking


     A origem do termo é obscura. O que sabemos é que vikings eram guerreiros, mais precisamente, saqueadores marinhos oriundos da Escandinávia. Antes mesmo dos primeiros saques vikings em monastérios, os anglo-saxões usavam a palavra do inglês antigo wicing. Entretanto, esta era uma palavra que eles usavam não exclusivamente para os saqueadores de origem escandinava, mas para saqueadores de todas as origens e significava “pirata” ou “pirataria”.

     Foi apenas no final do século X ou início do século XI, em poemas anglo-saxões tais qual a Batalha de Maldon, que o termo wicing veio a significar “um saqueador escandinavo vindo do mar”. Vikings não eram piratas profissionais ou soldados em período integral - ou ao menos não a princípio. Originalmente eles eram pescadores e fazendeiros que passavam a maior parte do ano em suas terras. Apenas no verão que estes se reuniam sob o comando de um líder local e se aventuravam através do mar para saquear, comerciar ou procurar novas terras para se estabelecer.

     O nórdico antigo, língua falada naquele período na Escandinávia, usa a palavra vikingr em seu vocabulário, mas sua origem é incerta. A explicação atual argumenta que o termo originalmente significava “um marinheiro oriundo do distrito de Vík do fiorde de Oslo” e, posteriormente, viria a significar um saqueador vindo do mar desta região ou de qualquer outra da Escandinávia.

     Qualquer que fosse sua derivação, o termo viking nunca foi utilizado para o conjunto dos escandinavos e só foi de uso comum com o aparecimento de movimentos nacionalistas escandinavos no século XIX.

"Convidados do além-mar", de Nicholas Roerich. 1901.





Referências bibliográficas


James Graham-Campbell. Os Vikings, Grandes civilizações do passado. Editora Folio, 2006.

Jorvik Viking Centre:

The Viking Age Compendium:

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