Recriacionismo Histórico: Revivendo o Passado
O
que é recriacionismo histórico?
Recriacionismo Histórico (do inglês Historical
Reenactment), também chamado "recriação histórica" ou por vezes "reconstrução histórica", é a prática de recriar aspectos de determinado evento ou
período histórico tanto para
fins recreativos como para fins educacionais. O recriacionismo
geralmente é considerado por seus entusiastas uma atividade de lazer, ou seja,
um hobby, embora haja um pequenino aumento no número de recriacionistas que
oferecem serviços a diversos locais de patrimônio cultural, escolas, museus e
similares de forma profissional. O recriacionismo abrange uma gama muito ampla
de atividades, desde assentamentos e apresentações de batalhas até a vida
cotidiana através dos tempos, acampamentos, jogos, entre outras coisas.
Recriações podem variar de um pequeno grupo que se
concentra na construção de um único recorte individual, usado por uma única
pessoa (um soldado romano ou um jardineiro do século XVIII, por exemplo), até
eventos históricos de maior escala, incluindo recriações de diversos períodos e
locais (como a reconstrução anual da Batalha de Hasting). Embora os
recriacionistas tendam a recriar eras e elementos relevantes a sua terra natal,
muitos abraçam temas históricos e nacionalidades mais amplas, por exemplo:
Casacas Vermelhas britânicos em uma recriação de Waterloo podem ser retratados
por entusiastas na Alemanha ou nos EUA; vikings de Birka retratados por
entusiastas no Brasil ou na Colômbia; e assim por diante.
É importante ter em mente que a "precisão"
da recriação histórica está balizada pela pesquisa científica. Sendo
assim, a recriação deve estar sempre a par das pesquisas arqueológicas e
consensos históricos mais corretos acerca de suas características, tornando a
prática recriacionista uma atividade de constante estudo e busca de
informações. Isso faz com que o recriacionismo tenha duas faces: ele deve
sempre buscar ser o mais correto possível, mas ele sempre o será somente o
quanto possível for.
Existem recriacionistas de todos os gêneros, tamanhos,
etnias e classes sociais, não importando a profissão ou formação de cada um. A
única coisa que realmente importa é a dedicação de cada participante e
o recriacionismo oferece a cada um deles uma oportunidade única para
desfrutar e viver a história dentro de uma grande cena social. E para os
milhares que assistem a estas recriações, uma experiência imersiva sobre o
passado na forma de grande entretenimento.
Recorte
O que é o tal do recorte que os recriacionistas
tanto falam? Embora possa haver uma centena de termos para isso como
"caracterização específica", "localização temporal",
"período de interesse", etc., recorte nada mais é que uma escolha do
recriacionista acerca do que ele de fato deseja recriar. Ao falar sobre
recorte, não basta dizer "faço viking reenactment” ou, mais genérico
ainda, "medieval reenactment". E o porque disso é muito simples: a
Idade Média tem aproximadamente mil anos, sendo que só a Era Viking tem quase
300. Ambas acontecem, teoricamente, em toda a Europa. Agora uma pergunta: é
possível imaginar um espaço tão vasto e um período tão longo com uma
uniformidade, seja em qualquer aspecto? Seria muita ingenuidade acreditar nisso
ou mesmo acreditar que viking seja algum tipo de adjetivo
genérico. Isso sem entrar no próprio mérito da etimologia e uso do termo viking, que
é alvo de pesquisas desde o século XIX.
E é justamente aí que o recorte ganha sua força! Nas
palavras de Vinícius Ferreira Arruda, ferreiro e viking reenactor de São Paulo,
"o 'típico viking' é uma ilusão que muitos entusiastas possuem
e que simplesmente não existe. No final do século VIII certamente eram
saqueadores navais que cultuavam deuses pagãos. No século XII-XIII, a
Escandinávia inteira já era cristianizada e o próprio termo viking passou
a ser usado, inclusive, para cruzados. Desta forma vemos que há uma grande
enganação ao tentar retratar o 'típico', pois o típico é uma coisa absurdamente
volátil, mas
o 'típico-específico', apesar de parecer uma contradição semântica, é o terreno
da recriação histórica. Se você usa um elmo sueco do final do
século VIII, uma espada norueguesa do meio do XI e trajes com adornos
saxões do século IX, você não está representando NADA que existia no período.
Seria como dizer que um brasileiro do século XX usa chapéu de cangaceiro,
walkman, bombacha e gravata, só porque todas essas coisas existiram
simultaneamente em determinada época do Brasil".
Essa é a importância em escolher um recorte, pois
apesar de retratar uma minoria, você recria uma minoria dentro do típico-específico,
"passível de existir", ao invés de um ajuntado genérico que causaria
estranheza em quem o visse naquele tempo e lugar. Assim sendo, ao se recriar um
período, é fundamental fazer um recorte dentro dele e quanto mais específico for
este recorte, mais verossímil a recriação será.
Confira
alguns exemplos de recortes que selecionamos pela web:
Autenticidade:
o que difere o recriacionismo de outras atividades
No recriacionismo, ser autêntico e histórico é
justamente se manter fiel ao seu objetivo e tentar ao máximo utilizar objetos
que, se fossem transportados para o período e local da história que se visa
recriar, não causariam estranhamento aos que lá viveram. É justamente neste
ponto que o recriacionismo se difere de atividades como o Swordplay (que não
utilizam armas de aço), do SCA - Society for Creative Anachronism (o que
mais se parece com reenactment, porém é praticamente isento de autenticidade e
fidelidade histórica), do Cosplay (que visa apenas o lado estético e geralmente invoca um cenário ficcional, mesmo que inspirado em nosso mundo)
entre outras atividades.
A base da recriação é a autenticidade e isso não pode
existir sem um pesado estudo sobre o que se pretende recriar. A leitura de
livros, artigos e fontes do período a ser recriado são fundamentais, embora
sejam insatisfatórios se a arqueologia for posta de lado. Sendo assim, a busca
por sobreviventes literários (ou orais, no caso de períodos como a Segunda
Guerra Mundial, que ainda nos oferece testemunhas vivas) e materiais de uma
dada época é fundamental ao recriacionismo. Através desses estudos e pesquisas,
o recriacionista deve buscar reconstruir de maneira fidedigna os itens, objetos,
armas e vestimentas do período, se atentando ao material usado e às técnicas
empregadas. Claro que isso nem sempre é possível como, por exemplo, um grupo de
recriacionismo viking que utiliza ferramentas e técnicas de confecções que não
existiam na Era Viking, armas feitas de maneira “não ortodoxa”, equipamentos de
proteção como luvas e braceletes, escudos de compensado, etc., mesmo assim,
esses objetos podem e devem buscar autenticidade na medida do possível.
Exemplos disso:
1) Uma espada não precisa, obrigatoriamente, ser feita
através de forjamento, com aços “caseiros” e tudo o mais para ser autêntica,
desde que apresente um estilo que seja próprio do período e região a qual tenta
se encaixar. Isso não isenta a lâmina, por exemplo, de ter um tamanho, peso e
formato o mais adequado possível à sua historicidade, até porque quanto mais
adequados forem seus atributos, melhor permitirá que o recriacionista “sinta” a
espada como ela deveria ser.
2) O uso de certas proteções. Apesar de algumas não
existirem ou não serem usadas em algumas épocas, elas são fundamentais para a
salubridade de algumas práticas que o recriacionismo envolve. No recriacionismo
medieval o combate é comum e sem a devida proteção nós sabemos no que pode dar,
assim, ainda que o equipamento não condiga com a realidade, ele é
imprescindível. Nestes casos deve haver um esforço para que sejam “feitos à semelhança”
do período. Não é porque está “errado” de qualquer forma que um guerreiro saxão
do século X usará como proteção nas mãos uma luva de boxe vermelha, tampouco
uma manopla gótica articulada. Ele pode reforçar uma luva com couro, com cota
de malha, com diversos materiais muito mais cabíveis e semelhantes ao período
almejado. Além disso, qualquer objeto
que possa ser usado "escondido" por baixo da roupa deve permanecer
escondido.
Documentação
A documentação é o conjunto de fontes que
utilizamos para construir um recorte histórico. Uma boa documentação é formada
inicialmente por aquilo que os historiadores costumam chamar de fontes
primárias. As fontes primárias são aquelas onde você encontra a informação
original. Um exemplo: você está pesquisando sobre o romance de D. Pedro I com a
Marquesa de Santos e encontra um artigo que fala sobre as cartas trocadas entre
eles, citando alguns trechos; então, para compreender de forma mais ampla o
conteúdo delas, você vai atrás das cartas que foram preservadas. Nesse caso, as
cartas seriam um exemplo de fonte primária.
Além das fontes primárias, existem as fontes
secundárias, que são aquelas que ajudarão você a compreender o contexto onde a
sua fonte primária surgiu. As fontes secundárias podem ser encontradas em
artigos e livros de pesquisadores que escrevem sobre o tema ou evento que você
pesquisa. Para as fontes secundárias, tome o cuidado de sempre procurar os
títulos mais recentes e que, de preferência, sejam escritos por historiadores e
pesquisadores bem conceituados, pois elas serão fundamentais para que você possa
analisar suas fontes primárias e extrair o máximo de informação delas.
Há vários tipos de fontes primárias que podem ser
úteis para a sua pesquisa, sendo as principais:
1) Fontes Escritas: são os periódicos
(jornais, revistas), documentos oficiais (todos aqueles produzidos por algum
governo, como processos judiciais, legislativos, etc.), documentos sacros
(produzidos por igrejas, templos, sacerdotes, etc.), relatos pessoais (diários,
cartas, bilhetes), entre outros.
2) Fontes Visuais: são as pinturas (de
preferência aquelas produzidas no próprio período que você esteja pesquisando),
vitrais, desenhos, gravuras, fotografias, esculturas. Com as fontes visuais é
preciso tomar cuidado redobrado, principalmente com relação à indumentária,
pois se tratam de representações e não de retratos fiéis da realidade
– ainda que possam nos dar algumas pistas sobre a estética de cada período.
Abaixo temos um pedaço da Tapeçaria de Bayeux (1070-1080), uma excelente fonte
visual.
3) Cultura
Material: São os objetos originais da época ou réplicas quase exatas
deles. Encontradas basicamente em museus, alguns inclusive possuem fotografias
para consulta digital gratuitas
Agora
você deve estar se perguntando: por que reunir uma documentação? A resposta é
bem simples, a principal função da documentação é garantir que você esteja
fazendo tudo corretamente, pois, como já vimos, a recriação histórica tem um
compromisso muito grande com a autenticidade, isso significa conhecer o
maior número possível de detalhes sobre determinado período, o que é um
trabalho constante de autoeducação. Já sabemos que, quando nos comprometemos
com a autenticidade, fazemos a opção de abandonar ao máximo a especulação.
Você até pode achar muito interessante ter uma bolsa para levar seus objetos
pessoais enquanto representa um soldado romano, mas se não houver registro
conhecido de bolsas sendo usadas por legionários, usá-las é pura especulação –
e o recriacionismo tem por regra reduzir a especulação ao mínimo possível.
Especialmente aos recriacionistas que trabalham com
ações estritamente educativas, seja em escolas, museus ou em eventos abertos, a
documentação é uma questão de ética e responsabilidade em relação às
informações que estão sendo transmitidas, tanto através daquilo que falamos
quanto através da nossa aparência e postura.
Referências
Bibliográficas
Artigo “A Brief History of Reenactment”, da EventPlan: http://www.eventplan.co.uk/page29.html
Blog
“Reenactment Brasil”, de Vinícius F. Arruda, membro do grupo recriacionista
Escudo dos Vales: http://reenactmentbr.blogspot.com.br
Sociedade
Histórica Destherrense: http://shdestherrense.com/home
The
Vikings of Bjornstad sobre o Museu de Haithabu http://www.vikingsofbjornstad.com/MuseumHaithabu.htm
O
que é recriacionismo histórico?
Recriacionismo Histórico (do inglês Historical
Reenactment), também chamado "recriação histórica" ou por vezes "reconstrução histórica", é a prática de recriar aspectos de determinado evento ou
período histórico tanto para
fins recreativos como para fins educacionais. O recriacionismo
geralmente é considerado por seus entusiastas uma atividade de lazer, ou seja,
um hobby, embora haja um pequenino aumento no número de recriacionistas que
oferecem serviços a diversos locais de patrimônio cultural, escolas, museus e
similares de forma profissional. O recriacionismo abrange uma gama muito ampla
de atividades, desde assentamentos e apresentações de batalhas até a vida
cotidiana através dos tempos, acampamentos, jogos, entre outras coisas.
Recriações podem variar de um pequeno grupo que se
concentra na construção de um único recorte individual, usado por uma única
pessoa (um soldado romano ou um jardineiro do século XVIII, por exemplo), até
eventos históricos de maior escala, incluindo recriações de diversos períodos e
locais (como a reconstrução anual da Batalha de Hasting). Embora os
recriacionistas tendam a recriar eras e elementos relevantes a sua terra natal,
muitos abraçam temas históricos e nacionalidades mais amplas, por exemplo:
Casacas Vermelhas britânicos em uma recriação de Waterloo podem ser retratados
por entusiastas na Alemanha ou nos EUA; vikings de Birka retratados por
entusiastas no Brasil ou na Colômbia; e assim por diante.
É importante ter em mente que a "precisão"
da recriação histórica está balizada pela pesquisa científica. Sendo
assim, a recriação deve estar sempre a par das pesquisas arqueológicas e
consensos históricos mais corretos acerca de suas características, tornando a
prática recriacionista uma atividade de constante estudo e busca de
informações. Isso faz com que o recriacionismo tenha duas faces: ele deve
sempre buscar ser o mais correto possível, mas ele sempre o será somente o
quanto possível for.
Existem recriacionistas de todos os gêneros, tamanhos,
etnias e classes sociais, não importando a profissão ou formação de cada um. A
única coisa que realmente importa é a dedicação de cada participante e
o recriacionismo oferece a cada um deles uma oportunidade única para
desfrutar e viver a história dentro de uma grande cena social. E para os
milhares que assistem a estas recriações, uma experiência imersiva sobre o
passado na forma de grande entretenimento.
Recorte
O que é o tal do recorte que os recriacionistas
tanto falam? Embora possa haver uma centena de termos para isso como
"caracterização específica", "localização temporal",
"período de interesse", etc., recorte nada mais é que uma escolha do
recriacionista acerca do que ele de fato deseja recriar. Ao falar sobre
recorte, não basta dizer "faço viking reenactment” ou, mais genérico
ainda, "medieval reenactment". E o porque disso é muito simples: a
Idade Média tem aproximadamente mil anos, sendo que só a Era Viking tem quase
300. Ambas acontecem, teoricamente, em toda a Europa. Agora uma pergunta: é
possível imaginar um espaço tão vasto e um período tão longo com uma
uniformidade, seja em qualquer aspecto? Seria muita ingenuidade acreditar nisso
ou mesmo acreditar que viking seja algum tipo de adjetivo
genérico. Isso sem entrar no próprio mérito da etimologia e uso do termo viking, que
é alvo de pesquisas desde o século XIX.
E é justamente aí que o recorte ganha sua força! Nas
palavras de Vinícius Ferreira Arruda, ferreiro e viking reenactor de São Paulo,
"o 'típico viking' é uma ilusão que muitos entusiastas possuem
e que simplesmente não existe. No final do século VIII certamente eram
saqueadores navais que cultuavam deuses pagãos. No século XII-XIII, a
Escandinávia inteira já era cristianizada e o próprio termo viking passou
a ser usado, inclusive, para cruzados. Desta forma vemos que há uma grande
enganação ao tentar retratar o 'típico', pois o típico é uma coisa absurdamente
volátil, mas
o 'típico-específico', apesar de parecer uma contradição semântica, é o terreno
da recriação histórica. Se você usa um elmo sueco do final do
século VIII, uma espada norueguesa do meio do XI e trajes com adornos
saxões do século IX, você não está representando NADA que existia no período.
Seria como dizer que um brasileiro do século XX usa chapéu de cangaceiro,
walkman, bombacha e gravata, só porque todas essas coisas existiram
simultaneamente em determinada época do Brasil".
Essa é a importância em escolher um recorte, pois apesar de retratar uma minoria, você recria uma minoria dentro do típico-específico, "passível de existir", ao invés de um ajuntado genérico que causaria estranheza em quem o visse naquele tempo e lugar. Assim sendo, ao se recriar um período, é fundamental fazer um recorte dentro dele e quanto mais específico for este recorte, mais verossímil a recriação será.
Confira alguns exemplos de recortes que selecionamos pela web:
Autenticidade:
o que difere o recriacionismo de outras atividades
No recriacionismo, ser autêntico e histórico é
justamente se manter fiel ao seu objetivo e tentar ao máximo utilizar objetos
que, se fossem transportados para o período e local da história que se visa
recriar, não causariam estranhamento aos que lá viveram. É justamente neste
ponto que o recriacionismo se difere de atividades como o Swordplay (que não
utilizam armas de aço), do SCA - Society for Creative Anachronism (o que
mais se parece com reenactment, porém é praticamente isento de autenticidade e
fidelidade histórica), do Cosplay (que visa apenas o lado estético e geralmente invoca um cenário ficcional, mesmo que inspirado em nosso mundo)
entre outras atividades.
A base da recriação é a autenticidade e isso não pode
existir sem um pesado estudo sobre o que se pretende recriar. A leitura de
livros, artigos e fontes do período a ser recriado são fundamentais, embora
sejam insatisfatórios se a arqueologia for posta de lado. Sendo assim, a busca
por sobreviventes literários (ou orais, no caso de períodos como a Segunda
Guerra Mundial, que ainda nos oferece testemunhas vivas) e materiais de uma
dada época é fundamental ao recriacionismo. Através desses estudos e pesquisas,
o recriacionista deve buscar reconstruir de maneira fidedigna os itens, objetos,
armas e vestimentas do período, se atentando ao material usado e às técnicas
empregadas. Claro que isso nem sempre é possível como, por exemplo, um grupo de
recriacionismo viking que utiliza ferramentas e técnicas de confecções que não
existiam na Era Viking, armas feitas de maneira “não ortodoxa”, equipamentos de
proteção como luvas e braceletes, escudos de compensado, etc., mesmo assim,
esses objetos podem e devem buscar autenticidade na medida do possível.
Exemplos disso:
1) Uma espada não precisa, obrigatoriamente, ser feita
através de forjamento, com aços “caseiros” e tudo o mais para ser autêntica,
desde que apresente um estilo que seja próprio do período e região a qual tenta
se encaixar. Isso não isenta a lâmina, por exemplo, de ter um tamanho, peso e
formato o mais adequado possível à sua historicidade, até porque quanto mais
adequados forem seus atributos, melhor permitirá que o recriacionista “sinta” a
espada como ela deveria ser.
2) O uso de certas proteções. Apesar de algumas não
existirem ou não serem usadas em algumas épocas, elas são fundamentais para a
salubridade de algumas práticas que o recriacionismo envolve. No recriacionismo
medieval o combate é comum e sem a devida proteção nós sabemos no que pode dar,
assim, ainda que o equipamento não condiga com a realidade, ele é
imprescindível. Nestes casos deve haver um esforço para que sejam “feitos à semelhança”
do período. Não é porque está “errado” de qualquer forma que um guerreiro saxão
do século X usará como proteção nas mãos uma luva de boxe vermelha, tampouco
uma manopla gótica articulada. Ele pode reforçar uma luva com couro, com cota
de malha, com diversos materiais muito mais cabíveis e semelhantes ao período
almejado. Além disso, qualquer objeto
que possa ser usado "escondido" por baixo da roupa deve permanecer
escondido.
Documentação
A documentação é o conjunto de fontes que
utilizamos para construir um recorte histórico. Uma boa documentação é formada
inicialmente por aquilo que os historiadores costumam chamar de fontes
primárias. As fontes primárias são aquelas onde você encontra a informação
original. Um exemplo: você está pesquisando sobre o romance de D. Pedro I com a
Marquesa de Santos e encontra um artigo que fala sobre as cartas trocadas entre
eles, citando alguns trechos; então, para compreender de forma mais ampla o
conteúdo delas, você vai atrás das cartas que foram preservadas. Nesse caso, as
cartas seriam um exemplo de fonte primária.
Além das fontes primárias, existem as fontes
secundárias, que são aquelas que ajudarão você a compreender o contexto onde a
sua fonte primária surgiu. As fontes secundárias podem ser encontradas em
artigos e livros de pesquisadores que escrevem sobre o tema ou evento que você
pesquisa. Para as fontes secundárias, tome o cuidado de sempre procurar os
títulos mais recentes e que, de preferência, sejam escritos por historiadores e
pesquisadores bem conceituados, pois elas serão fundamentais para que você possa
analisar suas fontes primárias e extrair o máximo de informação delas.
Há vários tipos de fontes primárias que podem ser úteis para a sua pesquisa, sendo as principais:
1) Fontes Escritas: são os periódicos (jornais, revistas), documentos oficiais (todos aqueles produzidos por algum governo, como processos judiciais, legislativos, etc.), documentos sacros (produzidos por igrejas, templos, sacerdotes, etc.), relatos pessoais (diários, cartas, bilhetes), entre outros.
2) Fontes Visuais: são as pinturas (de preferência aquelas produzidas no próprio período que você esteja pesquisando), vitrais, desenhos, gravuras, fotografias, esculturas. Com as fontes visuais é preciso tomar cuidado redobrado, principalmente com relação à indumentária, pois se tratam de representações e não de retratos fiéis da realidade – ainda que possam nos dar algumas pistas sobre a estética de cada período. Abaixo temos um pedaço da Tapeçaria de Bayeux (1070-1080), uma excelente fonte visual.
3) Cultura Material: São os objetos originais da época ou réplicas quase exatas deles. Encontradas basicamente em museus, alguns inclusive possuem fotografias para consulta digital gratuitas
Agora você deve estar se perguntando: por que reunir uma documentação? A resposta é bem simples, a principal função da documentação é garantir que você esteja fazendo tudo corretamente, pois, como já vimos, a recriação histórica tem um compromisso muito grande com a autenticidade, isso significa conhecer o maior número possível de detalhes sobre determinado período, o que é um trabalho constante de autoeducação. Já sabemos que, quando nos comprometemos com a autenticidade, fazemos a opção de abandonar ao máximo a especulação. Você até pode achar muito interessante ter uma bolsa para levar seus objetos pessoais enquanto representa um soldado romano, mas se não houver registro conhecido de bolsas sendo usadas por legionários, usá-las é pura especulação – e o recriacionismo tem por regra reduzir a especulação ao mínimo possível.
Especialmente aos recriacionistas que trabalham com ações estritamente educativas, seja em escolas, museus ou em eventos abertos, a documentação é uma questão de ética e responsabilidade em relação às informações que estão sendo transmitidas, tanto através daquilo que falamos quanto através da nossa aparência e postura.
Referências
Bibliográficas
Artigo “A Brief History of Reenactment”, da EventPlan: http://www.eventplan.co.uk/page29.html
Blog
“Reenactment Brasil”, de Vinícius F. Arruda, membro do grupo recriacionista
Escudo dos Vales: http://reenactmentbr.blogspot.com.br
Sociedade
Histórica Destherrense: http://shdestherrense.com/home
The
Vikings of Bjornstad sobre o Museu de Haithabu http://www.vikingsofbjornstad.com/MuseumHaithabu.htm
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