Runas (Parte 1)

     De todos os elementos da cultura viking e escandinava, um dos mais conhecidos devem ser as Runas. Muitos tiveram seu primeiro contanto com estas através dos anões de Tolkien, outros através de jogos como Diablo e Warhammer e inúmeras outras franquias, filmes e livros usaram deste alfabeto para complementar suas criações. Mas, de fato, o que são as Runas? Uma das explicações mais simples e diretas que podemos dar é que as runas são um alfabeto, porém, por mais que isso não seja mentira, não é o suficiente para dar a verdadeira dimensão do que elas representavam. As runas são, na verdade, as letras que compõem o alfabeto rúnico que foi amplamente usado (com suas devidas variações e desdobramentos) durante quase todo o primeiro milênio d.C. e pelo menos o primeiro século do segundo.

     Quando falamos em Era Viking estamos nos referindo especificamente a dois "alfabetos": Futhark e Futhorc. Futhark é um nome que deriva das seis primeiras runas no alfabeto: Fehu, Uruz, Thurisaz, Ansuz, Raidho e Kenaz. Ele possui duas variações, o germânico Elder Futhark (Antiga Futhark) e o escandinavo Younger Futhark (Jovem Futhark), que foi o sistema utilizado durante a Era Viking.


Origem


Codex Runicus
     As pesquisas mais recentes defendem que os alfabetos rúnicos derivam de antigos alfabetos etrusco e itálicos e sua forma mais antiga, o Elder Futhark, estava "formado" como um sistema padronizado no início do século V, apesar de as inscrições mais antiga encontradas datarem por volta de 150 d.C. Foram encontradas runas e bindrunes (combinações visuais de runas a quais se atríbuem propriedades mágicas) em armas e artefatos originários dos primeiros cinco séculos do primeiro milênio, mas estas ainda variam muito entre si - sinal de que um sistema padrão e comum ainda não havia se concretizado. Esses achados são oriundos do sul da Suécia, Dinamarca e norte da Alemanha. Entre esses artefatos, broches e pentes gravados com runas são os achados mais antigos localizados até o momento.

     Ao lado, ilustração de uma das páginas do Codex Runicus, um manuscrito em couro, datado de cerca do ano de 1300 d.C., contendo um dos mais antigos e bem preservados  textos da Skanian  Law, escrito inteiramente em runas. Um dos elementos mais interessante presentes nas runas são suas formas, todas composta de traços, o que evidencia as superfícies onde eram mais comumente gravadas: madeira, osso e pedra (tendo em vista que formas curvas seriam difíceis de gravar nesses materiais e tendo em vista os instrumentos disponíveis no período).


Younger Futhark


     Esse era o alfabeto rúnico comumente utilizado na Era Viking. Entre os séculos IX e XII d.C. na Escandinávia, a comunicação era feita de acordo com essa variação da FutharkOYounger Futhark se tornou conhecido na Europa como o "alfabeto dos nórdicos" e foi estudado por diversos povos no interesse do comércio e de contatos diplomáticos. Era conhecido como Abecedarium Nordmannicum (abecedário nórdico) pelo Império Franco e Ogam lochlannach (alfabeto dos escandinavos) pelos celtas, citado no Livro de Ballymote.

     Os elementos que imediatamente chamam a atenção ao compararmos ambas as versões da Futhark (Elder Youngeré a "ausência" de algumas runas que, na verdade, não desaparecem, mas a maneira com que eram usadas foram se alterando, provocando alterações nos formatos e, em alguns casos, a junção de dois fonemas em uma mesma runa. A segunda diferença é a presença de formas mais arredondadas, como por exemplo nas runas Fehu e Uruz, que possuem "ramos curvos".

     Outro elemento é a aparição das runas de "ramo longo" e as de "ramo curto". Duas teorias são as mais difundidas em relação a essa divisão: a primeira seria regional, com as runas de ramo longo sendo predominantemente danesas e as de ramo curto mais comuns nas atuais Suécia e Noruega. A outra teoria é que as runas de ramo longo tenham sido utilizadas em documentos oficiais e em situações mais formais enquanto as de ramo curto tenha sido usadas no cotidiano das populações escandinavas.

Tabela comparativa entre Antiga Futhark e Jovem Futhark.


Runestones


Uma das duas Runestones de Lingsberg (U 240).
     Uma das maiores fontes de conhecimento das runas vêm das runestones escandinavas. Estas são grandes rochas cobertas de runas e desenhos do período usadas como marco de locais e/ou acontecimentos importantes para aqueles que as gravaram. Além de nos mostrar como as runas eram usadas de maneira prática, as runestones também nos fornecem muito material e conhecimento sobre a arte escandinava como motivos, técnicas, diferentes estilos que foram usados e como estes se desenvolveram através dos anos da Era Viking.

     Ao lado, uma das Runestones de Lingsberg, que são duas runestones localizadas na fazenda de Lingsberg, Suécia, datadas do século XI d.C. e gravadas em Nórdico Antigo usando a Jovem Futhark. As duas runestones intactas foram levantadas por membros da mesma família gravando, para a posteridade, que o avô havia recebido dois danegelds na Inglaterra. O danegeld era um imposto cobrado na Inglaterra entre os séculos X e XII para financiar proteção contra invasões dinamarquesas.






Referências bibliográficas


Diana PaxonTaking Up The Runes: A Complete Guide To Using Runes In Spells, Rituals, Divination, And Magic. Weiser Books, 2005.

Sessão de Alfabeto Rúnico do Omniglot Online Encyclopedia.

Artigo sobre literatura na Era Viking do Hurstwic.
Artigo sobre runas e escrita da Viking Answer Lady.

Comentários

  1. boa noite, gostaria de saber como se esreve a palavra FORÇA e a palavra VONTADE em runas, ou se tem simbolos pra essas mesmas palavras, obrigado

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